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Brasil Open: 19 anos de tênis, história e tradição

bropen2015Brasil Open no Ginásio do Ibirapuera

Por Ariana Brunello e Matheus Martins Fontes

Ele nasceu baiano, disputado em piso duro e em quadra aberta. Virou paulistano, jogado no saibro e em ginásio coberto. Dezenove anos se passaram desde a primeira edição do Brasil Open, em 2001. Na época, o país entrava novamente no calendário da ATP, após sete anos sem sediar um torneio de tênis.

Da Costa do Sauípe a São Paulo, o torneio mais tradicional do Brasil entrou também para a história do esporte. Da primeira edição, quando os olhos e as apostas eram para Gustavo Kuerten, número 1 do mundo e nosso principal representante no circuito na época, à 19a edição, palco não só de brasileiros, mas também de nossos hermanos argentinos, de representantes da Armada Espanhola e do mundo todo. 

O torneio da série ATP 250 protagonizou capítulos inesquecíveis do tênis em nosso país, até fevereiro deste ano. A partir de 2020 terá nova casa: o Estadio Nacional, em Santiago, no Chile. O Brasil Open teve seu fim anunciado hoje, então nada mais justo do que recordarmos alguns desses momentos memoráveis do esporte, vividos aqui bem pertinho da gente. São inúmeros fatos, estatísticas, vários campeões e algumas curiosidades que marcaram esses dezenove anos de torneio no Brasil. Vamos relembrar?

sauipeAntigo complexo do Brasil Open na Costa do Saui 

Na primeira edição, Guga se despediu inesperadamente logo na estreia, diante do compatriota Flávio Saretta. Quem surpreendeu e chegou à final foi outro brasileiro, Fernando Meligeni. Mas, no confronto com Jan Vacek, outra surpresa daquela edição, o tcheco levou a melhor e foi o primeiro campeão do torneio.

Final de simples: Jan Vacek (CZE) d. Fernando Meligeni (BRA) 2/6, 7/6(2) e 6/3
Final de duplas: Enzo Artoni (ARG) e Daniel Melo (BRA) d. Gaston Etlis (ARG) e Brend Haygarth (RSA) 3/6, 6/1 e 7/6(5)

Na edição seguinte, Guga ainda sentia dificuldades depois da primeira cirurgia no quadril. Com o apoio da torcida, ele seguiu até a final contra o promissor Guillermo Coria, levantou a taça após batalha de mais de três horas e consagrou seu retorno ao pódio. Guga também disputou a final de duplas, mas ficou com o vice-campeonato ao lado do parceiro André Sá.

Final de simples: Gustavo Kuerten (BRA) d. Guillermo Coria (ARG) 6/7(4), 7/5 e 7/6(2)
Final de duplas: Scott Humphries (USA) e Mark Merklein (BAH) d. Gustavo Kuerten e André Sá (BRA) 6/3 e 7/6(1)

A chave da terceira edição do Brasil Open reuniu grandes nomes do circuito masculino e, pela primeira vez, jogadores top 10 da ATP. Além de Guga, desembarcaram o alemão Rainer Schuettler, vice-campeão do Australian Open daquele ano, o holandês Sjeng Schalken, quadrifinialista do US Open, e o chileno Fernando Gonzalez com seu famoso e incomparável forehand. Na semi, Guga levou dura virada de Schuettler após ter o saque na mão para fechar a partida, mas quem sorriu por último foi Schalken ao bater o germânico facilmente no domingo.

Final de simples: Sjeng Schalken (NED) d. Rainer Schuettler (GER) 6/2 e 6/4
Final de duplas: Todd Perry (AUS) e Thomas Shimada (JPN) d. Scott Humphries (USA) e Mark Merklein (BAH) 6/2 e 6/4

Em 2004, o piso duro foi substituído pelo saibro, mais favorável aos brasileiros, e o Brasil Open passou para uma nova data, junto ao calendário da gira sul-americana. O espanhol Carlos Moyá e o chileno Nicolas Massú voltaram mais cedo para casa e Guga estava ainda mais próximo do bicampeonato, dessa vez em seu piso preferido. Após derrotar o argentino Franco Squillari de forma emocionantes nas quartas de final, o tricampeão de Roland Garros manteve a hegemonia diante dos fregueses argentinos José Acasuso e Agustin Calleri para levantar o segundo troféu na Bahia, esse que seria o último de sua bem-sucedida carreira.

Final de simples: Gustavo Kuerten (BRA) d. Agustin Calleri (ARG) 3/6, 6/2 e 6/3
Final de duplas: Mariusz Fyrstenberg e Marcin Matkowski (POL) d. Tomas Behrend (GER) e Leos Friedl (CZE) 6/2 e 6/2

Na quinta edição, sem Guga, a esperança brasileira era Ricardo Mello, que chegou à semifinal contra um jovem espanhol de cabelos compridos e regata. Com apenas 18 anos, Rafael Nadal surpreendeu Mello e o mundo ao levar o título do Brasil Open, esse que seria apenas o primeiro dos onze troféus do “Touro” na temporada. 

Final de simples: Rafael Nadal (ESP) d. Alberto Martin (ESP) 6/0, 6/7(2) e 6/1
Final de duplas: Leos Friedl e Frantisek Cermak (CZE) d. Jose Acasuso e Ignacio Gonzalez King (ARG) 6/4 e 6/4

O torneio começou com as vitórias do gaúcho André Ghem sobre Guga, ainda bastante prejudicado pelas constantes dores no quadril, e de Flávio Saretta sobre Juan Carlos Ferrero, um dos favoritos ao título. Mas quem levou a melhor no Carnaval baiano foi Nicolas Massú, um dos grandes nomes do tênis sulamericano que voltava a vencer um torneio desde o ouro olímpico nos Jogos de Atenas.

Final de simples: Nicolas Massú (CHI) d. Alberto Martin (ESP) 6/3 e 6/4
Final de duplas: Lukas Dlouhy e Pavel Vizner (CZE) d. Mariusz Fyrstenberg e Marcin Matkowski (POL) 6/1, 4/6 e 10/3

MASSU campeao 2006Nicolas Massú

Uma das chaves mais fortes na história do Brasil Open, a sétima edição contou com a participação de quatro campeões de Roland Garros: Guga, Gastón Gaudio, Juan Carlos Ferrero e Carlos Moyá. Mas quem nem ligou para tantos currículos vistosos foi Guillermo Cañas, que conquistava o primeiro título ATP desde seu retorno ao circuito após longo período suspenso por doping. O destaque brasileiro foi Flávio Saretta, que derrotou Guga (e as vaias do público) e Nicolas Almagro para alcançar a semifinal na Costa do Sauípe.

Final de simples: Guillermo Cañas (ARG) d. Juan Carlos Ferrero (ESP) 7/6(4) e 6/2
Final de duplas: Lukas Dlouhy e Pavel Vizner (CZE) d. Albert Montañes e Ruben Ramirez Hidalgo (ESP) 6/2 e 7/6(4)

A emoção tomou conta da oitava edição do Brasil Open com Guga ovacionado pelos fãs logo no segundo dia de competição. A derrota para Carlos Berlocq dava início ao tour de despedida do manezinho das quadras. Na final de simples, Nicolas Almagro protagonizou uma das melhores partidas na história do torneio ao vencer Carlos Moyá e, assim, conquistar a primeira das três coroas no torneio. Nas duplas, vitória mineira de Marcelo Melo e André Sá.

Final de simples: Nicolas Almagro (ESP) d. Carlos Moyá (ESP) 7/6(4), 3/6 e 7/5
Final de duplas: Marcelo Melo e André Sá (BRA) d. Albert Montañes e Santiago Ventura (ESP) 4/6, 6/2 e 10/7

almagro 2008Nicolas Almagro

 Um jovem brasileiro mostrava a que veio e já era considerado o “novo Guga” na nona edição. Dos seis tenistas da casa, só Thomaz Bellucci conseguiu passar da primeira rodada e, com o apoio da torcida, chegou até a final. Uma batalha de mais de duas horas contra Tommy Robredo. A dura derrota foi compensada pelos aplausos do público, que soube reconhecer seu talento e esforço. 

Final de simples: Tommy Robredo (ESP) d. Thomaz Bellucci (BRA) 6/3, 3/6 e 6/4
Final de duplas: Tommy Robredo e Marcel Granollers (ESP) d. Lucas Arnold Ker e Juan Monaco (ARG) 6/4 e 7/5

Tommy-Robredo- 2009Tommy Robredo

Na edição comemorativa do 10º aniversário, mais um espanhol se consagrou no Brasil Open. Nem Nadal, nem Almagro, nem Robredo. Em 2010, foi a vez do “Mosquito” Juan Carlos Ferrero, que derrotou o polonês Lukasz Kubot por implacáveis 6/1 e 6/0 na decisão mais rápida da história do evento.

Final de simples: Juan Carlos Ferrero (ESP) d. Lukasz Kubot (POL) 6/1 e 6/0
Final de duplas: Pablo Cuevas (URU) e Marcel Granollers (ESP) d. Lukasz Kubot (POL) e Oliver Marach (AUT) 7/5 e 6/4

juan-carlos-ferrero 2010Juan Carlos Ferrero

Nicolas Almagro confirmou o favoritismo e venceu pela segunda vez o Brasil Open, em sua última edição em solo baiano. Três mil e quinhentos espectadores viram o espanhol derrotar a sensação ucraniana Alexandr Dolgopolov e se igualar ao bicampeão Gustavo Kuerten. A Espanha confirmava assim a então hegemonia de quatro anos seguidos no torneio brasileiro, com os títulos anteriores de Ferrero, Robredo e Nadal. Nas duplas, mais um troféu à marca de Minas Gerais, agora com Marcelo Melo e Bruno Soares.

Final de simples: Nicolas Almagro (ESP) d. Alexandr Dolgopolov (UKR) 6/3 e 7/6(3)
Final de duplas: Marcelo Melo e Bruno Soares (BRA) d. Pablo Andujar e Daniel Gimeno-Traver (ESP) 7/6(4) e 6/3

nicolasalmagro 2011Alexandr Dolgopolov e Nicolas Almagro

Ano novo, torneio novo. O Brasil Open saía da Bahia e aterrissava no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Dessa vez o destaque foi o público: mais de 45 mil pessoas em nove dias de competição. Almagro derrotou o italiano Filippo Volandri e se tornava o maior vencedor do torneio com três títulos. Thomaz Bellucci não chegou à decisão e saiu da quadra sob vaias do público, que não aceitou a derrota para Volandri. Já Bruno Soares levantou o caneco do Brasil Open nas duplas, ao lado do norte-americano Eric Butorac.

Final de simples: Nicolas Almagro (ESP) d. Filippo Volandri (ITA) 6/3, 4/6 e 6/4
Final de duplas: Eric Butorac (USA) e Bruno Soares (BRA) d. Michal Mertinak (SVK) e André Sá (BRA) 3/6, 6/4 e 10/8

almagro 2012 amo brasilAlmagro tricampeão

Arquibancada lotada de fãs de todos os cantos do País para acompanhar o retorno de Rafael Nadal, após sete meses afastado do circuito. No saibro do Ibirapuera, o espanhol, mesmo longe do ideal, não deu chances à concorrência e garantiu o primeiro título pós-lesão, ao bater David Nalbandian. Mais de 50 mil pessoas, recorde de público, durante nove dias de competição. Nas duplas, Bruno Soares chegava ao tricampeonato consecutivo, agora fazendo parceria com o austríaco Alexander Peya.

Final de simples: Rafael Nadal (ESP) d. David Nalbandian (ARG) 6/2 e 6/3
Final de duplas: Alexander Peya (AUT) e Bruno Soares (BRA) d. Frantisek Cermak (CZE) e Michal Mertinak (SVK) 6/7(5), 6/2 e 10/7

nadal 2013Nadal bicampeão

O primeiro título ninguém esquece. Foi no Brasil Open 2014 que Federico Delbonis subiu ao lugar mais alto do pódio pela primeira vez. Na caminhada até o troféu, o argentino derrotou Filippo Volandri, Nicolas Almagro e Thomaz Bellucci, numa semi com gostinho, torcida e emoção de uma grande decisão, e finalmente Paolo Lorenzi. Nesta edição, uma visita ilustre: Chris Kermode, presidente da ATP.

Final de simples: Federico Delbonis (ARG) d. Paolo Lorenzi (ITA) 4/6, 6/3 e 6/4
Final de duplas: Phillip Oswald (AUT) e Guillermo Garcia-Lopez (ESP) d. Juan Sebastian Cabal (COL) e Robert Farah (COL) 5/7, 6/4 e 15-13

delbonis2014Federico Delbonis

Reviravoltas. Se uma palavra fosse capaz de ilustrar a 15a edição do Brasil Open, não haveria escolha melhor. Para começar, o principal nome, o espanhol Feliciano Lopez, desistiu antes mesmo da hora. Então, o local reservado na chave “caiu no colo” do até então desconhecido Luca Vanni. O italiano de 29 anos chegou a São Paulo não muito adaptado com sua única raquete. Então, eis que o gigante de 1,98m comprou dois modelos antigos na lojinha do torneio. As compras surtiram efeito e Vanni entrou no quadro principal. “Venceu” seu primeiro jogo ATP logo de bye e, com mais uma raquete comprada na tal lojinha, foi desbancando um favorito de cada vez, entre eles João “Feijão” Souza - o melhor brasileiro do torneio - numa semifinal eletrizante. Na decisão, chegou a servir para o título, mas pecou pela inexperiência diante do “calejado” Pablo Cuevas. O uruguaio, que nasceu na Argentina, é outro que passou por maus bocados na carreira - dois anos fora de ação devido a lesões nos joelhos -, precisou escolher o tênis entre muitos esportes na infância e, pelo jeito, parece não se arrepender com o terceiro título de simples da carreira.

Final de simples: Pablo Cuevas (URU) d. Luca Vanni (ITA) 6/4, 3/6 e 7/6(4)
Final de duplas: Juan Sebastian Cabal  (COL) e Robert Farah (COL) d. Paolo Lorenzi (ITA) e Diego Schwartzman (ARG) 6/4 e 6/2

cuevas vanniLuca Vanni e Pablo Cuevas 

Nas edições seguintes, mais emoções vividas pelo público, por todos que trabalharam diretamente no evento e, claro, pelos tenistas que disputaram o belo trofeu em solo paulistano.

Realizado pela primeira vez no belo Esporte Clube Pinheiros, o Brasil Open 2016 viu Pablo Cuevas conquistar o bicampeonato do torneio. Na final, o então número 27 do mundo derrotou o espanhol Pablo Carreño Busta, com parciais de 7-6 (4) e 6-3, levantando seu quinto trofeu na carreira.

Em 2017, Pablo Cuevas se concagrou como o primeiro tricampeão consecutivo na história do Brasil Open. Após uma interrupção no meio do segundo set devido ao mau tempo, o uruguaio virou a final contra o espanhl Albert Ramos-Viñolas, com parciais de 6-7 (3), 6-4 e 6-4. Cuevas igualou o número de trofeus de Nicolas Almagro na competição, mas o espanhol não venceu seus três títulos de forma seguida (2008, 2011 e 2012). Nas duplas, o Brasil Open voltou a ter campeões brasileiros, após seis anos. André Sá e Rogério Dutra Silva derrotaram Marcelo Demoliner e Marcus Daniell, com parciais de 7-6 (5), 5-7 e 10-7. Foi o trofeu de número 11 na carreira de André e o primeiro título de ATP de Rogerinho.

O Brasil Open teve seu priemiro campeão italiano em 2018. Fabio Fognini derrotou o chileno Nicolas Jarry - pimeiro chileno presente em uma final de simples da ATP desde Fernando Gonzalez em 2009 - por 1-6, 6-1 e 6-4, conquistando o sexto trofeu da carreira. Este ano também marcou a despedida de André Sá, único jogador a disputar todas as edições do evento até então. O mineiro foi homenageado e ovacionado pelo público na quadra central, encerrando a carreira após 21 anos.

Um argentino que cresceu disputando torneios em nosso país e, nos últimos anos, sempre esteve presente no ATP 250 de São Paulo, entrou de vez para a história do Brasil Open. Em 2019, enfim, chegou a vez de Guido Pella levantar o trofeu no Ginásio do Ibirapuera. Uma edição marcada pela presença de fortes nomes da nova geração do tênis, como Felix Auger-Aliassime.

Infelizmente, o Brasil Open chega ao fim. O fim de uma Era maravilhosa e inesquecível. O fim de apenas um capítulo nos livros da ATP, que ainda terá muitas páginas de uma história linda pela frente. Seja muito bem-vindo, ATP 250 de Santiago! Agora é com você!

Ready. Play.

Imagens: Divulgação Brasil Open

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