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Por trás das câmeras com Narck Rodrigues

narck sportvNarck Rodrigues, comentarista do SporTV

Ele já fez parte do circuito da ATP, é professor de tênis, disputa torneios ITF Seniors e, como bom carioca, invadiu as areias do Beach Tennis. Pra quem já foi tenista profissional é difícil ficar longe do esporte.

Com um belo currículo, Narck Rodrigues levou a experiência adquirida durante anos de quadra para o outro lado da telinha e desde 1998 é comentarista de tênis nos canais SporTV, onde vivenciou alguns dos momentos mais marcantes do esporte, em todos esses anos de profissão.

No intervalo das transmissões do Rio Open, Narck bateu um papo com o Tennis Report e falou sobre a atual fase do tênis nacional, o trabalho realizado em prol do esporte, a prioridade pelo futebol nas emissoras brasileiras e o segredo para se fazer uma boa transmissão. Confira a entrevista com um dos melhores comentaristas esportivos do Brasil!

Você já fez parte do circuito da ATP e figurou entre os 400 melhores tenistas do mundo. Como foi essa experiência em sua carreira?
Narck Rodrigues – Eu joguei por muito pouco tempo. Fiz a transição do juvenil para o profissional, onde atuei por apenas três anos. Aí muita coisa aconteceu, entre contusões e o Plano Collor. Havia muitos torneios no Brasil, a gente não precisava sair daqui pra ganhar pontos e subir no ranking pois era mais barato. Mas, com esse plano do ex-governo, o número de torneios diminuiu bastante e ficou cada vez mais difícil conseguir patrocínio e dinheiro pra poder viajar.

Como bom carioca, você migrou para o Beach Tennis, mas ainda disputa alguns torneios seniors. Pra quem jogou tênis profissional, é difícil ficar longe do esporte, né?
Narck Rodrigues – Pois é! Está na veia! O Beach Tennis é muito legal, a gente se diverte muito, mas não dá pra largar o tênis, ainda mais acompanhando e estando presente em grandes torneios. Isso é um estímulo pra continuar batendo uma bolinha. Então jogo com os veteranos sempre que sobra um tempinho.

narck beachNarck e a paixão pelo Beach Tennis

Por que estamos carentes de tenistas bem colocados no ranking mundial?
Narck Rodrigues – Posso falar pela minha experiência. Quando iniciei no tênis e comecei a jogar como juvenil em 1980, eu já ouvia as pessoas comentando que o Brasil tinha que ter um centro de tênis. E até hoje, depois de tanto tempo, tivemos o Kirmayr, o Guga, o Meligeni, o Bellucci que chegou a ser o número 21 do mundo, tantos grandes tenistas e nada até agora foi feito. Então o Brasil acaba se virando com alguns talentos que surgem e trabalham forte por aqui. O ideal é aumentar a quantidade de garotos que jogam para termos mais atletas com potencial. É difícil porque não é em todo lugar que você tem uma federação que realmente trabalhe visando o futuro e que não tenha foco apenas no presente, que olhe pra frente visando um trabalho de cinco ou dez anos, que trabalhe hoje para colher os frutos lá na frente. É difícil explicar porque temos torneios como o Brasil Open há tantos anos, agora o Rio Open e nossa equipe vai bem na Copa Davis. É preciso aumentar a base de tenistas e copiar os exemplos que dão certo, como por exemplo o vôlei brasileiro, que é uma potência há trinta anos. Claro que algumas modificações são necessárias pois o tênis é um esporte individual. O vôlei tem “olheiros” em cada canto do país e na seleção brasileira temos jogadores das regiões norte e nordeste, centros que antigamente não tínhamos. Por que não copiar esse modelo?

Categorias de base então são fundamentais para o esporte?
Narck Rodrigues – Sem dúvida. Um exemplo hoje é a Teliana, que veio do nordeste, um lugar de onde não imaginaríamos que pudesse vir um tenista. Então por que sempre achar que as promessas são do centro-sul, região mais rica do país? O modelo do vôlei trabalha muito isso. A Teliana nos mostra que o caminho pode ser esse: encontrar atletas com talento, mesmo não sabendo se podem virar grandes tenistas, nessas regiões.

Você é hoje um dos melhores comentaristas de tênis na TV brasileira. Como surgiu a sua história com a televisão?
Narck Rodrigues – Sempre adorei tênis, li muito sobre o assunto, em especial revistas antigas, e conversava muito sobre esportes com o Armando Nogueira, jornalista falecido muito conhecido no Brasil. Torcíamos pelo mesmo time, o Botafogo. Um dia ele me disse “você fala tão bem, sabe muito de tênis, não quer fazer um teste no SporTV?”. Fui convidado por ele e comecei em abril de 1998 e estou até hoje.

armandoSaudoso Armando Nogueira (Foto: Sergio Berezovsky/AE)

Qual foi o momento mais marcante e qual o mais curioso em todos esse anos como comentarista?
Narck Rodrigues – Sempre acontecem muitos imprevistos e situações curiosas durante as transmissões. Difícil destacar um. Mas o momento mais marcante foi quando o Guga venceu o Masters de Lisboa. Me lembro que fiz todos os quinze jogos do torneio, como a vitória do Guga sobre o Agassi na fase de grupos, depois a vitória dele sobre o Sampras na semi e depois a vitória na final. O Guga estava cada vez mais perto do título e eu não estava mais concentrado no jogo. Já estava pensando no discurso que eu faria no final porque aquele era um momento histórico pro Brasil e eu não podia desperdiçar a chance de falar algo importante. Um momento que jamais se repetiu para o nosso país. Guga chegou ao topo do ranking mundial e ter um brasileiro como número 1 do mundo era algo sensacional. Tivemos a Maria Esther, mas infelizmente numa época em que não havia divulgação como temos hoje. Então eu precisava falar alguma coisa! O Guga estava ali caminhando para uma quebra à frente, faltavam dois games pra fechar e eu ali já pensando e escrevendo o que eu falaria no final. Sem dúvida, o momento mais marcante pra mim. Outros como algumas vitórias em Copa Davis, o Meligeni vencendo o Karol Kucera naquela virada sensacional aqui no Rio, que levou o Brasil à semifinal da Davis também foi espetacular. As pessoas estavam saindo do estádio, ele começou a virar e todos voltaram. Até me arrepia lembrar desse momento!

O telespectador brasileiro é muito crítico e não perdoa qualquer falha por parte das equipes que atuam diretamente nas transmissões. O que falta nos profissionais, comentaristas e narradores de tênis hoje no Brasil?
Narck Rodrigues – O nível das transmissões melhorou muito. Claro que algumas transmissões são mais fáceis de serem feitas pois você tem mais imagens e mais recursos. O HD hoje deu outra qualidade às transmissões porque o tênis está se transformando em um esporte muito rápido e sem ele fica difícil enxergar a bola em alguns momentos. Então como falar com precisão pra quem está assistindo sobre um ponto, uma estratégia, se do outro lado a pessoa não está nem enxergando a bola. Muitos, como eu, não têm a formação jornalística, mas entendem do estão falando. No início existem os percalços típicos de quem está começando na profissão, como saber lidar com o microfone, respiração, momento de fazer uma intervenção, de ficar calado, não falar o óbvio, detalhes que quem faz locução sabe. O principal é entender do que está falando. O níve dos comentaristas hoje é excelente, dos cronistas que escrevem sobre o esporte também. De algumas coisas você até discorda, mas difícil alguém falar ou escrever uma bobagem. O que a maioria do público não entende é que muitas falhas ou problemas técnicos não são culpa das emissoras brasileiras. As imagens são geradas de fora do país, o que dificulta um pouco o trabalho.

narck claudioNarck e o narrador Cláudio Uchôa, um dos parceiros de transmissão

O tênis já ocupa um bom espaço na grade de programação das emissoras. Mesmo sendo o segundo esporte mais transmitido na TV brasileira, o público sente falta dos bastidores, das entrevistas e das premiações, que geralmente são cortadas no final das partidas. Os telespectadores fãs de tênis não merecem mais respeito?

Narck Rodrigues – Quando isso acontece a culpa é sempre do comentarista e do narrador! Já estamos acostumados. Claro que cada telespectador tem a sua preferência do que está assistindo e do quanto quer assistir. Quem está por trás, trabalhando na transmissão ou no departamento comercial da emissora, precisam cumprir contratos. Hoje tem tudo na TV, todos os esportes possíveis e é fundamental dar espaço a todos eles. Não adianta pensar só no tênis. Claro que o tênis ocupa um espaço maior, mas temos o curling, o golfe, esportes que são menos transmitidos, mas que têm seu público fiel. No tênis, às vezes estamos há oito horas no ar, mas o telespectador ligou a TV há apenas duas horas e, quando encerramos a transmissão, ele pergunta: “Mas já acabou?”. Isso acontece muitas vezes. Mas as emissoras que têm muitos contratos, consequentemente têm mais eventos e precisam dar espaço a todos. As que têm mais o lado jornalístico podem extender um pouco mais a transmissão e ficar mais tempo no ar com determinado evento, como o tênis por exemplo.

Isso também acontece quando o tênis é interrompido para dar espaço ao futebol, o que deixa muita gente indignada?
Narck Rodrigues – Sim, acontece. O futebol, como você disse, é o primeiro esporte. Os contratos no futebol ainda são muito maiores e têm prioridade nas transmissões. Obviamente esse ano é de Copa do Mundo no Brasil, então não tem jeito. É o esporte do país. Então acabamos inevitavelmente fazendo esses cortes na transmissão do tênis para o futebol. Mas, na minha opinião, hoje tem acontecido menos.

narck cabineNarck e Eusebio Resende em ação na cabine do SporTV

O Rio de Janeiro agora faz parte do calendário da ATP e da WTA. Como você avalia a estrutura e o trabalho de transmissão no maior torneio de tênis da América do Sul e o que podemos esperar das próximas edições?
Narck Rodrigues – O SporTV sempre estará onde o tênis está. Posso te garantir. Nossas transmissões tentam cada vez mais trazer o telespectador para dentro da quadra, fazendo o melhor trabalho possível. O Rio Open foi uma experiência excelente. Claro que todo torneio quando acontece pela primeira vez tem suas falhas. Agradar o público é importante, mas o principal é agradar os jogadores e isso foi feito. O Rio de Janeiro é a porta de entrada do Brasil. Os tenistas estrangeiros querem vir pra cá, jogar aqui. A primeira edição já começou com o número 1 do mundo. Se ele saiu daqui falando bem, quem não vai querer vir jogar nos próximos anos? É um torneio que tem tudo pra ficar no calendário por muito tempo.

Mais um momento histórico na sua carreira: trabalhar no primeiro e maior torneio da América do Sul.
Narck Rodrigues – E na minha casa! Sou carioca, moro aqui e poder ter um ATP 500, um WTA International e o número 1 do mundo jogando no Rio de Janeiro é algo histórico! E, nas próximas edições, se não tivermos o número 1, que venham o número 2, o número 3, pois é um torneio muito grande.

Qual o segredo para se fazer uma boa transmissão?
Narck Rodrigues – É chegar descansado, estudar sobre os jogadores e os torneios antes, olhar a programação e os jogos que você vai transmitir na véspera, ter uma boa e leve alimentação. Aí vai numa boa porque você sabe o que está falando. O resto vai depender do que acontecer nos jogos e isso é imprevisível. O segredo é chegar preparado. Só assim para se fazer uma boa transmissão.

Veja também a entrevista em vídeo no canal do Tennis Report no YouTube:

 

Agradecimentos: Rio Open, SporTV e TV Tenista www.tvtenista.com.br
Fotos: Arquivo Pessoal 

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